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SER TELEFONISTA NA CONSOADA

Uma fotografia datada de 1975, encontrada nas redes sociais, serviu de mote para manter uma interessante conversa com uma das suas protagonistas, a Ana Fátima Ferreira, que, na noite de consoada daquele ano, trabalhou na Central da Picaria.

Ana entrara como telefonista para os TLP dois anos antes, com apenas 18 anos, onde se manteve durante onze anos, só deixando uma atividade de que tanto gostava, quando foi integrada nos escritórios da empresa – secção de Edifícios, por motivos de reconversão de serviço. A foto que faz reviver aquela noite de há 45 anos, é da noite de 24 de dezembro, mostrando o brevíssimo momento em que as colaboradoras, Francisca, Ana, Augusta (e outro rosto não identificado) esboçam olhares e um sorriso para a câmara.

Ana Fátima recorda que na semana anterior ao Natal tinha recebido a escala para trabalhar na Consoada das quatro à meia-noite. A pergunta que nos suscita curiosidade é: Como era fazer o horário noturno, numa altura tão relevante como era a véspera e o dia de Natal? Embora não fosse a sua primeira vez, considera a nossa interlocutora que, apesar da tristeza de não consoar mais um ano com a família, acabava por encarar o seu ofício com alguma normalidade perante a necessidade de prestar serviço ao assinante. Não havia outra alternativa; eram os ossos do ofício.

Ao recordar aquela noite na Picaria, Ana frisa que tinha por lema dar o melhor atendimento aos pedidos que chegavam, com maior ou menor frequência, ao longo da noite. E não era coisa pouca, como refer: nós tínhamos o Serviço de Informações (12), o Serviço de Avarias (13), o Serviço Informativo (16) e o Serviço Despertar. Em termos de serviço, o período do Natal era precisamente igual a todos os outros dias do ano: havia que cumprir as escalas e os seus horários, sem nunca podermos abandonar o posto de trabalho para que o assinante ficasse dependurado.

Aquela noite de Natal foi encarada pela equipa de telefonistas com o habitual rigor profissional, para o cabal cumprimento das responsabilidades, usando, tanto quanto possível, uma voz ainda mais afável que o habitual. Sim, porque do outro lado da linha era frequente atender alguém solitário, que ligava apenas para ouvir do outro lado da linha uma voz amiga.

Acrescenta esta antiga telefonista que o momento alto do turno, para as que estiveram nos horários mais tardios (aquelas que saíam entre as 22 e as 24 horas, ou entre as 24 e as 8 horas da manhã), foi aquele em que fomos presenteadas com um mini bolo-rei. A iguaria foi entregue a cada telefonista e às respetivas encarregadas por colegas do Grupo Desportivo. Esperámos até à hora do lanche; e na nossa sala de descanso pudemos então saborear o bolo-rei, ao mesmo tempo que recuperávamos as energias até ao próximo turno.

Nas datas festivas, diz Ana Fátima, o trabalho decorria de um modo bastante formal, em que atendíamos os assinantes sem sequer olhar para o lado, porque tínhamos a noção das exigências. E quanto às telefonistas poderem confraternizar, esse não era ainda um costume entre nós, nem tão pouco era habitual trocarmos presentes. Da sua longa experiência de doze anos de trabalho de telefonista, Ana conclui:  guardo muito boas memórias, mas principalmente de algumas colegas, que irão ficar no meu coração para sempre!

Carlos Vieira

 

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