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AS NOSSAS HISTÓRIAS

A EMPREGADA QUE BORDOU A BANDEIRA DA APT

A minha primeira história tem como protagonista Amélia Silva, uma telefonista do período da APT – Anglo Portuguese Telephone Cª.

Em 2016 fui encontrar esta senhora, já octogenária, no Centro Social Arcanjo Gabriel, em Valadares, que, ao perceber o meu interesse por aspectos relacionados com a sua vida profissional, predispôs-se a contar-me uma história que a marcou, incluindo foto que atesta a veracidade dos factos.

D. Amélia iniciou a sua vida profissional em 1944 na principal central telefónica da região do Porto, a Picaria, onde exerceu a função de telefonista, terminando a carreira na central de Jovim, em 1964.

O ano de 1950 ficou, porém, mais vivo na memória desta “menina dos telefones” (assim eram conhecidas as telefonistas na época). Por esses dias, na empresa, ela deu nas vistas de uma forma especial e peculiar, apenas porque aproveitava os intervalos dos seus turnos para se dedicar aos lavores, fazendo tricot e bordados com desenvoltura e qualidade.

Os seus atributos depressa chegaram ao conhecimento dos seus superiores hierárquicos, inclusive da gerência inglesa, que a chamou para lhe fazer uma proposta: bordar a nova bandeira da APT. Amélia ficaria incumbida de executá-la em sua casa, depois do horário normal de trabalho, recebendo pelo trabalho um justo pagamento. Ela aceitou a encomenda sem hesitação.

Durante os três meses seguintes, a jovem telefonista manteve-se totalmente focada naquele trabalho extra, de modo a cumprir todos os objectivos.

Uma vez por semana recebeu a visita de um responsável, que não só lhe levava a matéria-prima, como também avaliava a obra. Mas quando o novo estandarte ficou pronto e Amélia o foi entregar pediu para não ser remunerada em dinheiro, como tinha ficado acertado inicialmente. Justificou explicando que estava a fazer o enxoval para o casamento e ficava mais satisfeita se a gerência lhe comprasse um serviço de chá e uma colcha de cama que andava a “namorar” há algum tempo. O seu pedido foi cumprido.

Pouco tempo depois, D. Amélia, pôde ver, com orgulho, a “sua” bandeira ser hasteada e receber
merecidos elogios de todos.

Em 2017, um ano depois de me ter dado o seu testemunho, Amélia Silva viria a falecer. Em sua homenagem, partilho aqui esta história de vida para memória futura.

Carlos Vieira

 

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