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AS NOSSAS HISTÓRIAS

Adão de Sousa

Dos cabos telefónicos Fez arte

Houve um técnico de telecomunicações, no Porto, chamado Adão de Sousa, que muitos de nós ainda se lembram com simpatia porque se destacou, não somente por ter sido um excelente profissional, ou como professor no Centro de Formação dos TLP. Mas o que quero aqui evidenciar é tê-lo conhecido no papel de artista plástico, porque fazia algo verdadeiramente invulgar, ao transformar simples pontas de cabos telefónicos em peças de arte.

Pelos testemunhos de colegas com quem o técnico privou de perto, ele cedo se tornou conhecido pela sua fértil imaginação. Tal ficou provado nos anos 70 quando começou a ver no   material obsoleto dos cabos potencialidades únicas. Adão de Sousa foi selecionando criteriosamente os desperdícios que lhe passavam pelas mãos com um intuito: dar-lhes uma nova vida e utilidade.  Quem teria sido a pessoa que o inspirou? Ele garantia frequentemente:  não me inspirei em nenhum artista; tudo me sai da cabeça.

O sr. Adão colocou a sua genialidade naquilo que conseguia fazer a partir das sobras dos cabos, dos fios e do cobre. O incentivo que recebeu dos colegas entusiasmou-o de imediato, produzindo uma quantidade apreciável de obras em pouco tempo, das quais publicamos alguns exemplares. Os temas que mais o entusiasmaram foram as jarras e candeeiros com formas humanas disformes, nos quais aplicava iluminação, inserindo para o efeito lâmpadas nos olhos dos bonecos. As peças eram disputadas pelas colegas que passavam pelos cursos de formação onde ele dava aulas.  Augusto Mota, um seu aluno no Centro de Ensino, recorda com estima e consideração um grande homem, respeitador do seu próximo.

O jornal TLP em Notícia, em 1990, dedicou ao artista, uma página inteira, não admirando que a partir desse dia o seu nome ganhou notoriedade, sendo disso prova os trabalhos que colegas e amigos continuam a ostentar nas vitrinas das suas casas, como referem Glória Santos e Florinda Sousa. No final dos anos 90, Adão de Sousa mostrou desejo de participar numa das primeiras exposições coletivas dos Artistas da PT, organizada pelo Clube PT-Zona Norte. Foi por esses dias que tive o privilégio de conhecer o artista e a sua obra, na qualidade de curador do evento. Após a seleção dos trabalhos a expor, ele integrou a coletiva, que teve lugar no Espaço d’Arte da PT. Dessa exposição regista-se a adesão do público, que apreciou e aplaudiu mais um artista da casa, que tinha a particularidade de criar peças genuínas a partir de simples material que não passava de lixo.

Adão de Sousa nunca assinou os seus trabalhos, pois fazia questão de dizer que eles identificavam o artista. A sua passagem pelos Telefones fica aqui sublinhada para a posteridade. O profissional entrou para a APT, no Porto, em 1952; trabalhou na Secção de Cabo e foi chefia no Serviço de Linhas Norte2. Passou à reforma em 1992 e faleceu em setembro de 2005.  

 

Texto: Carlos Vieira

Fotos: Maria Clara Sousa Rocha (filha), Florinda Sousa, Glória Santos, Isabel Moura

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