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AS NOSSAS HISTÓRIAS

ACONTECEU HÁ 80 ANOS ….

… O CASAMENTO DAS TELEFONISTAS (parte 2)

Os primeiros casamentos

Em outubro de 1940 chegava ao fim o regulamento interno da APT que impedia o casamento das telefonistas ao seu serviço. Quando esse dia chegou muitas delas sentiram-se livres para, finalmente, poderem dar o nó sem o medo de retaliações.

O primeiro passo foi dado por Luísa Rafael, telefonista de Lisboa, que se casou com o seu colega da sucursal do Rossio, José de Carvalho. A imprensa escrita, que já tinha dado voz à pretensão das telefonistas, apoiadas pela campanha organizada pela defesa do seu casamento, fez também a cobertura jornalística dos primeiros atos matrimoniais, como foi o caso do jornal O Século, que motivou grande interesse e curiosidade da opinião pública.

Mimosa Faria (foto de cima) foi a primeira telefonista do Porto a casar-se. O exemplo desta mulher foi seguido por centenas doutras colegas, entre 1940 e 1948; só no Porto, naquele período, registaram-se 180 casamentos.

Uma das pessoas que conviveu de perto com a problemática das telefonistas foi Alice Graval, que entrevistámos em 1993 para o Jornal TLP em Notícia, e nos deu a sua perspetiva sobre os acontecimentos que começou a testemunhar na década de 1930.

D. Alice (na primeira fila, de braços cruzados) recordou-nos o seu peculiar percurso profissional na APT ao entrar para a Picaria, em 1932, para exercer a função de telefonista. Depressa deu nas vistas, não só pela jovialidade e poder de comunicação. Dizia-nos sentir orgulho na sua participação no Grupo de Teatro durante duas décadas e na presença assídua nos grandiosos saraus promovidos pela empresa inglesa. Foi desta forma que ela se tornou na estrela da Companhia, e, ao mesmo tempo, referia: fiz muitas amizades com as colegas da Picaria. E assim acabei por conhecer os dramas das que sofriam com as normas vigentes que tanto as prejudicava do ponto de vista sentimental, pois não podiam constituir família.

Na opinião de Alice, eram ridículas as justificações apresentadas sobre a proibição para o casamento das meninas dos telefones, pois eram baseadas no pressuposto de que elas podiam divulgar para o exterior assuntos internos da Companhia, ou então que estavam a tirar a oportunidade às solteiras e desempregadas. As normas chegavam ao ponto de proibir a telefonista de ser vista acompanhada por um homem perto do local de trabalho. Na verdade, o celibato forçado levou muitas funcionárias a ocultar dramas pessoais, incluindo terem de esconder namorados, casamentos e filhos; sabiam que, se tais situações se tornassem do domínio público, inevitavelmente seriam despedidas.

Quando o dia que tanto aguardavam chegou, houve choro e uma imensa alegria. As representantes das telefonistas do Porto, acompanhadas pelas suas chefias, acorreram à sede da Liga de Profilaxia Social, na Rua de Santa Catarina, e, num gesto de gratidão, entregaram uma mensagem de agradecimento em pergaminho, subscrito por 169 telefonistas. Em Lisboa, na mesma altura, uma comissão de telefonistas era recebida pelo Subsecretário de Estado das Corporações e Previdência Social, para manifestar o seu reconhecimento pelo seu contributo em todo o processo.

                                                                                                                           Carlos Vieira

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