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AS NOSSAS HISTÓRIAS

ACONTECEU HÁ 80 ANOS ….

… O CASAMENTO DAS TELEFONISTAS (parte 1)

Durante décadas, as telefonistas da APT, no ato de admissão na Companhia, eram informadas das condições essenciais: ter entre dezasseis e vinte anos, a instrução primária concluída, ter pelo menos um metro e meio de altura, um bom comprimento de braços (para chegar às cavilhas). O regulamento requeria ainda boa dicção, simpatia e uma condição extra: ser solteira.

E se a jovem decidisse casar, que consequências daí advinham? Ela sabia de antemão que teria de deixar a Companhia, a não ser que conseguisse ser transferida para outros serviços. Esta foi uma prática comum durante décadas na Anglo-Portuguese Telephone em relação às meninas dos telefones, que, forçadas ao celibato, ou a manterem casamentos secretos e relações marginais, não podiam manifestar abertamente o que pensavam sobre a injustiça da lei interna da empresa. Apesar dos condicionalismos impostos, o número de empregadas continuou a crescer, atingindo, em 1939, perto de 800 funcionárias em Lisboa e no Porto (1).

No final dos anos 30 o sentimento de desencanto atingia o seu auge. O início da mudança ocorreu durante o almoço de confraternização da APT, no Casino da Figueira da Foz, no momento em que o gerente, Sr Williams, recebe uma carta em que lhe era pedido que autorizasse às telefonistas o direito de, livremente, casarem e de terem filhos.

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Formosas e alegres heroínas do trabalho que à sociedade prestam relevantes serviços e que, amarradas à tortura dos aparelhos, nem sequer lhes é permitido o amor. (2)

Enquanto os responsáveis ingleses analisavam o pedido das suas funcionárias, nesse ano de 1939 a sociedade civil e religiosa levantava a sua voz em defesa das meninas solteiras da Companhia dos Telefones. A imprensa iria juntar-se a esse protesto de forma veemente, entrevistando várias telefonistas para lhes dar voz; igualmente fundamental foi a intervenção da Liga de Profilaxia Social, que, no Porto, desencadeava uma campanha, cujo epílogo feliz acabou mesmo por acontecer no final de 1940. A 20 de outubro, as telefonistas puderam finalmente receber a tão ansiada autorização para casar sem terem qualquer prejuízo. Com essa alteração, aconteceu que, entre 1940 e 1948, só no Porto foram legalizadas 120 uniões, de que existiam 100 filhos. (3)

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Em 1993, através do Jornal TLP em Notícia, entrevistámos várias telefonistas que testemunharam as alterações ocorridas. As entrevistas foram transcritas em três artigos, subordinados ao tema: “O Casamento e as Telefonistas da APT – Subsídios para a História dos TLP”.

Ester Gomes, à época jovem empregada na central da Picaria, recorda as vivências que lhe mudaram o curso de vida. Recebi a notícia pelos jornais. Senti tamanha alegria que, juntamente com outras colegas, mandámos celebrar missa na igreja dos Congregados. Todas ficamos comovidas, até mesmo as responsáveis mais antigas que podiam não estar do nosso lado. D. Ester foi ainda uma das que mostrou reconhecimento pelo trabalho desenvolvido pela Liga de Profilaxia Social, por intermédio do seu director, Dr. Emílio Magalhães, grande defensor pelos direitos cívicos e sociais, mostrando reconhecimento ao assinar mensagem coletiva de agradecimento.

Maria Eugénia Coimbra, à data com 27 anos, quando recorda aqueles dias lembra um dos episódios mais empolgantes que vivenciou, e conta: Ao tomar conhecimento do que se estava a passar à minha volta, percebi que me tornava livre para escolher o meu futuro, sem ter de me despedir. Lembro-me de sentir no ar um misto de euforia, mas também de medo perante uma situação nova.

(Continua)

Notas: (1) “Jornal da Tarde”, 2 de agosto de 1939; (2) “1882-1992: TLP – 110 Anos de Telecomunicações”; (3) Liga Portuguesa de Profilaxia Social, “A Campanha pelo casamento das telefonistas”. Imprensa Social, Porto, 1950

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